Hoje precisava de ti... Não sei se do teu olhar, das tuas mãos, do teu sorriso, da tua voz ou simplesmente da tua escrita. As palavras têm o poder de fazer nascer de novo a esperança, da mesma forma que conseguem pôr por terra qualquer ilusão. Muitas vezes é a ausência das palavras que faz com que tudo fique vazio, sem sentido. Hoje sinto-me um pouco assim, vazio, porque aos poucos, todas as tuas palavras se perderam por becos, por montes, por vales em forma de eco, mas sem chegarem a mim. Eu, que preciso das tuas palavras. As palavras encantam-me. O poder que elas contêm, sabes?, por isso me é sempre tão importante conseguir acreditar no que me dizem as bocas, no que me escrevem as mãos. Como se fosse o principio e o fim de tudo. Mesmo que a vida já me tenha ensinado que no fim, resta nada. Nem sequer as palavras... Hoje, particularmente hoje, sinto-me cansada. Das palavras. De as escrever, repetidamente, misturá-las umas com as outras para te dizer o que existe cá por dentro. Deslizam de mim pela ponta dos dedos mas não dizem o que sinto, o que quero. Escrevi-te tantas só para te dizer... mas não fui capaz... parece-me que escrevi muito, mas mesmo assim, não o suficiente para que através delas entrasses em mim para saberes como é. Esgotei as palavras. Enquanto me desgastei nas esperas. Inevitavelmente teria de ser assim. Hoje queria dizer-te tantas coisas e faltam-me as palavras... Este silêncio em vez de ti, corrói por dentro. E digo mil vezes em voz alta que preciso esquecer-te, para ver se consigo escutar-me. Eu sei que chegará a hora em que será assim. Eu sei... Sei também que o que mais custa nem sequer é terminar, mas sim aceitar que terminou. Vou ser capaz, vais ver. Tu não serás uma decepção maior que todas as outras. Irás ficar aqui num cantinho qualquer do meu coração, para que se um dia me cruzar contigo, possa olhar-te nos olhos sem ter que baixar os meus. Todas as histórias de amor são iguais... também tu um dia já não me irás doer. Queria dizer-te tantas coisas... mas este peso nos ombros que o teu silêncio me traz, estas mãos tão vazias, tão cheias de nada... Talvez chorar me aliviasse o peito, mas já não quero. Não quero chorar, mesmo que precise. Sabes aquelas horas em que te olhas ao espelho e já não sabes de ti? Aquelas horas em que olhas para um caminho percorrido e sentes que todas as esperas foram vãs? Todos os dias em que pensaste que talvez fosse hoje, e nunca foram? Que a cada telefonema, a cada carta, acreditaste, e tudo continuou suspenso? Não sei se sabes do que falo... talvez esta seja também uma daqueles poemas em que tanto escrevo e no fim continua tudo por dizer, porque não consigo transmitir toda a confusão de sentimentos que existe dentro de mim. Sabes aquelas horas em que sentes uma vontade a nascer-te por dentro de desistir? Sinto-me assim. Porque ainda te quero. E não te quero mais. Porque ainda te espero. E não quero esperar mais... Posso dizer-te que te sinto a falta, sabes? E talvez fique tudo dito.
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Um único momento Tenho uma lágrima presa nos meus olhos e a sensação de que não aproveitei nada do que vivi. Tenho medo de esquecer-me como sorrir mas ainda posso chorar. Apaguei as luzes para quê? Não ver o que está na minha frente. Tropeço nas coisas que deixei espalhadas no chão; Entre elas os dias em que fui feliz. Lembras-te do brilho que tinha nos meus olhos? Agora está ofuscado pela lembrança de que estou sozinha. E não me importa o quanto doa em ti, A culpa é minha. Posso conter as minhas emoções, Quero ter a oportunidade de dizer que ainda te amo, Sem que me dês tempo para fingir que te odeio. Afinal, do que valeria esse momento? Não sei se o que sinto é amor, Penso em ti todos os dias nos últimos meses; Queria encontrar-te ao acaso, Antes que pudesse dizer: olá; Queria ouvir-te a dizer que pensas em mim. Nenhuma palavra mais seria dita, Com um beijo longo e um abraço apertado, Sentiria o teu coração a bater acelerado contra o meu peito. Tocaria as tuas mãos, Sentiria o cheiro do teu perfume; Deslizaria os meus dedos entre os teus cabelos. Repetiria por horas que és tu que eu amo, Que jamais consegui esquecer-te, E que toda a angústia que sentia por não ter-te, Se tinha ido embora. Todos os momentos que não tivemos, seriam vividos apenas numa tarde; E a partir daquele instante começariam as nossas vidas. Queria ter-te ao meu lado para assistir a um filme na TV, Para caminharmos de mãos dadas; Para que deitasses no meu colo enquanto apreciaria o teu sono. Queria ver-te a sorrir, Queria um abraço dizendo-me ao ouvido que me amas. A noite seria curta demais para contarmos as estrelas lado a lado, e para ouvirmos as músicas recitando frases de amor. Desde o dia em que me deixaste, nunca mais fui capaz de repetir o teu nome para que todos ouvissem. Convivo com esse amor guardado no meu peito, e hoje sei que aprendi a fingir muito bem. Ninguém acredita quando digo que ainda te amo. Ninguém acredita quando digo que ainda te espero. Ninguém acredita que piso no meu amor próprio todos os dias sonhando em ver-te. Ninguém é capaz de entender que não sei como evitar este sentimento. Mas também pouco me importa se vão ou não entender, apenas; não me critiquem. Isso tudo é tão utópico, que nem ao menos me deixo pensar na hipótese de que tu podes estar tão apaixonado quanto eu, mas por outro alguém.
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Silenciosamente Sofrendo silenciosamente, Ergo o meu sorriso fingido Porque ainda é proibido Obedecer à nossa própria mente... Aguento a dor, calado, Esperando um dia o fim De tudo isto que arde em mim, como se estivesse aceso, mesmo estando apagado. Consome-me este anseio de fugir daqui, Esta vontade de esvair-me de ti E de deixar-te ir, como uma pena solta na ventania e sem a esperança de, algum dia, a minha alma tocar na tua, de novo. Ah... Como era bom que o sonho fosse eterno… Que eu permanecesse sempre dentro do teu coração, como imortal. Que nunca me deixasses cair nesta escuridão, Que, para mim, é muito mais que fatal… Corre dentro de mim um viscoso rio de amargura Que coexiste com o meu amor em fervura, E mantém-me num constante impasse de optar Entre amar sofrendo ou deixar de sofrer, morrendo… A cada dia, vai-se mais um pouco de mim E eu, na resignação do meu desaparecimento, Já não tenho força para lutar E sinto-me partido por dentro… Por que teimas em ser assim? Arde-me o peito e dói-me a alma Sempre que fecho os olhos sinto-te aqui… Sempre que recordo as vezes que contigo sorri… Respiro fundo, tentando manter a calma… Não consigo… porque tu ainda vives dentro de mim… e eu estou ainda em ti, sem bilhete de retorno…